domingo, dezembro 02, 2007

terça-feira, agosto 07, 2007

À luz do dia









Num passeio matinal e casual pelo centro de Lagos, acabei por redescobrir esta colecção (incompleta ainda) de candeeiros, escondidos pela luz do dia, a altura onde se instalam, a confusão alegre das pessoas que povoam nesta altura as diversas ruas e os olhares pouco atentos ao que vem de cima.

sábado, agosto 04, 2007

terça-feira, junho 19, 2007

Com a luz de um amor perdido

Sento-me agora no lugar mais escuro de mim própria, para que a luz o consiga enfeitar. Sugiro no pensamento algumas sombras projectadas por essa claridade extrínseca, construindo murais de histórias, e crónicas suprimidas. Faço-o para reconstruir páginas brevemente escritas no dia a dia. Para oscilar e deambular entre os contos da realidade e da ficção. Faço-o para te contemplar. Talvez para reavivar ou construir novas recordações. Só assim consigo abordar a tua imagem, agora defendida pela memória, a real imagem, livre dos pressupostos do desejo e dos ornamentos que, dia após dia, fui editando. A luz baça. Filtro das histórias repetidas, construídas, aguardadas, desacertadas, todos os dias. A repetição das respirações dos que nos rodeiam. O contorno da pele dos que se sentam no café ao lado de nós. Os olhares que caem constantemente ao chão. E os passos que voltam a repetir-se nesse mesmo chão. Os relógios imaginários sobrepõem-se ao pensamento. Um tempo longínquo tanto se constrói estanque como velozmente se esvai dentro de nós.
O tempo.
O regresso a casa sem qualquer outra companhia.
O momento em que mudaste de cidade.

Ou talvez tivesses morado de direcção na estrada. Ou mudaste de amor.
Ou o tempo quebrou-se enquanto chegava a casa e desordenou todas as coordenadas da tua localização.
As linhas ordenam-se com regressos ao presente de outros dias. São remendadas as verdades prematuras e disfarçadas convicções ancestrais, apelidadas pelo verbo amadurecer. São imóveis os momentos da mudança dos ventos, porque não te movimentam mais em meu redor. E voltamos ao lugar mais escuro, onde a luz penetra com agilidade, onde nos despedimos até a um mais ver.
És, talvez, amor sem encontro, sem procura e sem intenção. Sem olhar, fingido cego e aparentando casualidade, guiado para o querer ver.
Desenho abstracto de uma luz que descende de um outro tempo.
Sabor enevoado de um banquete sublime à luz de uma lâmpada já apagada.

(Junho 2007)

P.S. A produção escrita escassa por falta de net e de outras condicionantes alheias à minha real vontade. A minhas desculpas aos meus visitantes e amigos, que me acompanham sempre, mesmo quando as distâncias não me trazem a esta esfera. Obrigado, obrigado, obrigado sempre.:)

domingo, abril 29, 2007

O caminho instintivo

Domingo. O dia acorda cedo e sacode restos de sonhos de uma noite folgada. Surge a ideia ainda incerta e ensonada de nos fazermos à estrada. E a ideia faz-se acção.

O carro percorre sem pressa o caminho. Poucos são os que se cruzam por nós. Instalo-me sem pressa no conforto de um passeio sem tempo a cumprir, onde o propósito é receber o que a terra tem para dar, instalar-me discretamente como parte do toda a paisagem que vou percorrendo.

Falamos de muitas coisas. Trocam-se ideias sobre gentes e terras, o bem e o mal que vem da exploração dos recursos e da natureza, o bem que nos faz o cheiro do mar e a paisagem ainda poderosamente ingénua por ser quase intocável, ainda…Discutem-se, pacificamente e sensatamente, os estados da vida que nos vai rodeando e que ultrapassamos na estrada. Meia dúzia de minutos ou aquilo que os sentidos nos sugerem como momento intemporal ou será ainda o tempo que se esvai através das palavras que se vão trocando pelo caminho… E o caminho percorre-se… junto à paisagem, às palavras, ao sossego, ao silêncio.

Sente-se o silêncio, o que fica por detrás do silêncio. E chegamos finalmente ao lugar secreto (que em fé espero tornar-se realmente secreto para que perdure no tempo e no espaço). A manhã esteve clara, calma e aconchegante. Pelas ruas quase desertas passeavam luzes quentes que o sol nos dispunha e a sombra que lhe completava. E alguns turistas também, acho. Tentei fotografar, sem sucesso, as imagens que se desenhavam das ruas estreitas e as cores e os sons que por ali iam passando mas por vezes não há melhor retrato que a futura memória que um momento retém no nosso olhar, esse sim, nestas altura, infalível e multifacetado, porque recolhe todos os outros sentidos e os associa a emoções. A meia de leite soube-me bem. A viajem ao longo do vale também. Ali onde se tocam o Algarve e o Alentejo, a ribeira e o mar, o verde e o branco, a pedra e a areia, as contradições que se completam e se transfiguram num só desempenho. Entre o céu e a terra, todas as fronteiras de um só lugar. Um óptimo exemplo de convivência para a natureza humana. Ali repreendi a redescobrir algumas das lições mais básicas da nossa composta (e algumas vezes simples) existência. Espelhar-me nesse lugar, como em tantos outros por onde passo e passarei, agarrando a consciência da sua múltipla existência em mim.

E de novo, serenamente, voltamos a casa de alma lavada, prometendo intimamente continuar a sentirmo-nos assim.

domingo, março 11, 2007

O silêncio de um fim de tarde


E sustentam tantos sons estes momentos... estas imagens... estes pensamentos....

quinta-feira, dezembro 28, 2006

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Linha sem tempo

Aos poucos vou deixando cair no chão algumas das minhas envelhecidas vontades.
Perdem-se, de tempo a tempo, os desejos mais apetecidos.
Soltam-se somas pesadas das recomendações diárias que o mundo me sussurra constantemente. E essas nossas verdades assumem contornos dispersos. A contagem dos minutos transforma-se no mais ausente dos meus sentidos. Aceito-me, com prazer, na imensurabilidade dos meios-termos, o novo mundo das intensidades secretas que se concebem entre os opostos. O reviver cada dia de uma só vez. Criar o momento mais concreto, escondido para outros sorrisos, entre o tudo e o nada. A calma de saber existir.
Existo e persisto.
Os dias contornam-se com novas formas e preenchem-se com outras tonalidades.
As linhas largadas, esquecidas e estagnadas em folhas revistas e rasuradas pela demora, já não te perseguem. Os teus rascunhos de um tempo futuro não pertencem a esta nova forma de me traçar sem tempo.
Deixo contigo a demorada despedida e a mala cheia de toda a roupa despida depois de te ter beijado de novo.
Abraços que se perdem junto a lágrimas que ainda teimam em persistir dentro de nós.
Os olhos nublados que ganham um eterno tom cinzento.
Resistir às lágrimas como se o corpo tivesse vontade própria.

segunda-feira, novembro 13, 2006

quarta-feira, novembro 01, 2006

Pergunta-me

"Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minutos da cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta -me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer"


Mia Couto
Raiz do Orvalho e outros poemas
Editorial Caminho, lisboa, 1999


Enquanto preparo novas palavras... em breve.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Pergunto-vos... ( II )

Quais são as variantes do medo?

quinta-feira, outubro 12, 2006

Saudade de um quase nada

Quando o prazer sagrado se torna amor desprezado.
Quando o mar se esbate e a luz é mate.
Quando amantes apressados regressam dois a dois
E não existe ainda o depois,
Quando o cansaço repousa num beijo
E o medo se entorna no desejo,
Quando sorrisos se abrem em olhos sem cor
E a vida se sobrepõe ao pudor;
Tudo é mentira e tudo é verdade,
E sente-se na indiferença a saudade.



P.s.: A vossa atenção para "este lugar". A ler os links para mais informação. Eu subscrevo e agradeço a iniciativa.

quarta-feira, outubro 04, 2006

quarta-feira, setembro 20, 2006

Meia hora numa estrada sobre o mar

Meia hora é o tempo que demora o passado a passar.
Durante esta meia hora a espera insiste em pedir-me mais um segundo, um instante para repor todos os outros instantes. Um momento para viver em lugar de todos os outros momentos. Prece que se constrói com imperceptíveis sensações para colocar sobre a desilusão. E eu desculpo-me com a falta de sonhos e permito que a razão me destrua os pensamentos e magoe as recordações. Durante esta meia hora espero que o tempo discuta comigo e se vá embora, deixando de novo as ruas secas e desprevenidas, permeando algum encontro desimpedido de culpa. Durante uma hora pela metade, conduzo em caminhos que não levam consigo mapas ou destinos, apagando a cada distância os mais concretos sentidos e realidades. Durante meia hora o céu mais cinzento torna-se trajecto raso onde correm percursos esquecidos e imaginários perdidos. Desfaz-se o que é seguro. Espera-se o inatingível, sempre adiado pelos acasos e pela morte. O tempo sussurra vontades maiores que o próprio mundo, a alma surpreende-se e faz-se a si própria de novo, reinventando-se demente. Não se pode pensar, nem se quer sentir. Mas sente-se. Durante todo este tempo sobretudo sente-se. Tudo se inquieta languidamente entre as paisagens que me acenam constantemente fora da janela do carro, salpicadas de chuva ténue e alguma solidão. E o tempo continua a sentar-se ao meu lado, alguma vezes em vão. Passam presenças que entre tantos enganos resolvem permanecer por aqui. Passam afectos sem fundo e a certeza segura no olhar trocado entre os dois. Passam mil formas de me esquecer do depois.
Meia hora é quanto demora o ruído da máquina que escava os alicerces da sorte. Meia hora apenas e o tempo novamente foge.
Meia hora foi o tempo em que me viste em contramão e sem sombras nem porquês. Foi quando estacionei as esperanças contra a um sonho ainda sem fim, numa estrada com luar. E foi durante esse tempo que me fiz música e mar.
Meia hora feita lugar de passagem e repouso sobre o céu de todos os dias. Meia hora para o olhar se espreguiçar sobre uma janela fechada, para acordar ventanias, para percorrer nova estrada.
Meia hora entre o desassossego de passar entre o instante em que chego e o que serenamente me deixo ir. Antes que o tempo chegue a algum destino sem fim, tudo passa em mim sensivelmente em pouco mais que meia hora.

(Publicado no DNJovem em Janeiro de 2003)

terça-feira, setembro 12, 2006

sábado, setembro 09, 2006

Pergunto-vos... ( I )

"- Como vai, por aí, o amor?"

terça-feira, agosto 29, 2006

Nova passagem para outro tempo


Vou passear entre os tempos e os espaços, como em florestas onde se escondem as visões da felicidade.
Espero colher anonimamente os sons silenciados pelos sorrisos escandalosos; os risos desconhecidos e descarnados das crianças sem idade. Vou entrelaçá-los num ramo de ilusões para ofertar aos meus sonhos. Oiço distantes, os passos rasos dos nossos dias descalços pela esperança, impermeáveis à sorte e eternamente esquecidos, os toques vencidos pela morte e pelos dias. Olhares passados e recortados por outras estradas e outras esquinas. Estes não servem para presente. Procuro outros sentidos que me espreitam distraídos a cada pé assente no chão, o mais puro momento tecido pelo infinito de outro coração.
Quero a planície nublada que não vê a luz das estrelas por mergulhar dentro delas e persisto no caminho pela manhã inerte onde sobrevive solenemente uma neblina desfocada e quente. Continuo o percurso através da pele suada; memória fugidia que rodeia a ideia de se rever no reflexo de si própria, tremendo de frio. Encontro um espelho parado que me olha de volta temendo o vazio. Fim do caminho. Fim da linha que limita a geometria da paixão. Retorno a casa.
Volto a ser mulher sem olhar perdido nem andar prolongado. Vivo a hora em que o tempo se desfaz e se faz vento no espaço apresado e só; lamento apagado pelo ar que me acompanha e desfaz a cinza e o pó. Trago o cansaço do corpo e o beijo da alma.
Só mais tarde eu paro, revejo e desejo o reverso lento da cidade por onde passei. Camelot dos meus sonhos mais profundos onde endurecem as lágrimas que secam o segredo do mundo. E escrevo este mapa de tesouros desencontrados para me achar de novo na manhã de um novo tempo, num outro espaço e outro pensamento.
Todos somos os lugares que pisamos e respiramos a pele que nos serve todos os dias de passagem.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Sobre estrelas...


Última noite de feira do livro na cidade de Lagos, de regresso a casa com um saco de livros na mão. Edições lidas, perdidas no tempo e de novo repostas na minha biblioteca da memória. Algumas novidades.
De novo em casa. Folheio sem pressa algumas páginas dos meus recentes tesouros.
A primeira frase com que me confrontei, num céu muito pouco estrelado :

" - As pessoas têm estrelas, que não são as mesmas para todas elas. Para uns, os que viajam, as estrelas são guias. Para outras não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram ouro. Todas essas estrelas, porém, permanecem caladas. Mas tu terás estrelas como ninguém tem..."

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
(Vega, 1.ª edição,1994, pág. 91; Tradução de Alice Gomes)

Pergunto-me como serão? ...

domingo, agosto 13, 2006

O fio da memória

Escorre por mim como quem foge de um destino por cumprir. Fio entrelaçado de risos e choros, gostos e desgostos.
O reflexo dos raios de sol que ainda não amanheceram.
Reflecte em mim mares dispersos, quartos demasiado quentes ou planicies de céu, desbotadas e rotas.
Corre apressado, agarrado ao tempo, gastando-se em si.
Até ao fim, permanecendo apenas numa gota.


(Na parede coloco hoje também a minha mais recente descoberta e paixão: fotografar. Formas, cores, texturas e sensações disponiveis em Olhares)

quinta-feira, agosto 10, 2006

Razões para te agradecer

Porque existes sobre os dias enviesados no vazio.
Porque semeias as perguntas através dos olhos que prolongam o horizonte.
Porque descobres folhas esvaziadas de encontros atordoados pela desilusão.
Porque amachucas as páginas que revelam a sombra das histórias inúteis e banais, e os sonhos que todos desejamos acordados.
Porque predizes anos sem vazio no vazio das palavras que caem dentro de ti.
Porque permaneces onde é preciso eu ir para te encontrar, sem dúvidas ou esperas sussurradas pelos relógios dos outros.
Porque me esperas entre as indecisões e os segundos dos receios inacabados, fugindo a cada passo nos pensamentos desabitados das gentes que nos rodeiam.
Porque não revelas os segundos que te separam do tempo e te descobres por dentro e em vão. Porque encontras em cada sossego, um novo pensamento e um novo chão no mesmo incontornável lugar.
Porque os anjos são teus amigos e o céu está longe de nós.
Porque a terra te inventa dentro do dia e te deixa entardecer.
Porque a noite nos embrulha para nos deixar descobertos na manhã crua sem nunca se esquecer de nós.
Porque a escuridão é uma nódoa nua onde se espelha a nossa solidão.
Porque o fim do dia se repete todos os dias em que estamos sós.
Porque eu me agarro à vida cada vez que te visito ao passado prolongado e projectado nas cidades onde o depois quer habitar.
Porque os sonhos não têm sitio onde pernoitar quando o teu calor chega, do fundo da rua. Porque as estradas ondulam quando os teus pés se sentam nelas.
Porque as calçadas se curvam quando sentem a tua miragem.
Porque eu me faço passagem quando te vejo passar.
Porque és cura na ausência de outras mãos que me possam agarrar.
Porque o abraço se derramou pela ternura desse sorriso sem mundo.
Porque este corpo não é suficiente para agradecer a aragem que te faz existir e onde podes suspirar e adormecer.
Porque te vejo na praia dos sentimentos que de mim se espraiam em imensidão.
Porque em ti descanso o grito feito a chorar pela ilusão de me perder.
Porque me faço existir sem te encontrar e talvez te ame, só e sempre junto ao mar.

(Publicado no DNjovem em Dezembro de 2002)