segunda-feira, agosto 10, 2015

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(...) Assim me rescrevo por vezes. No espaço branco entre o sentir e o não sentir. O pensar e o não pensar. O espaço branco entre o som e o silêncio. No espaço branco entre palavras desenraizadas e histórias abandonadas. O espaço alado da própria pele. O espaço entre os espaços em branco, todos os espaços que se desbravam por ele. Onde tudo existe como sussurro de um longínquo e imaginário passado de personagens, num fantástico e ilusório enredo. (...)

sexta-feira, junho 05, 2015

Ego que chama por mim (sem maquilhagem).


(...) A minha pele é o ego retorcido de muitos mundos que trago em suspenso. É o som sublime e o eco de histórias que vivem comigo e comigo se vão revelando e crescendo. Ventos e poeiras, sombras e veredas dos sítios por onde me fui vivendo. Onde nasci, renasci, e morri. É também o presente, seguro e eloquente. É o testemunho do tempo que trago em mim e o testamento do que ganhei e do que perdi. É o não a que me obrigo e o não que também ouvi. A marca do sol deitado em praias desertas e das lua incompletas em cidades sobrelotadas. É a gravação do silêncio em casas perdidas. Os risos que transbordaram depois de todas as lagrimas caídas. A minha pele é o espelho das noites em branco e em cinzas, que se deram aos movimentos de corações desconstruídos, ou aos contratempos das memórias e dos desejos distorcidos sem palavras. É a sombra dos sonhos em contramão e a mão de cada sombra em mim tocada. É a luz nua das manhãs sussuradas. É a imensidão de todas as nuances em que acredito que podemos ver e viver a vida, reunidas numa só tez. É cada um dos mil e um sentidos que se perdem da vista mas se reiventam quando os dias chegam ao fim. É um outro retrato que se constrói em mim. (...)

domingo, abril 26, 2015

E quando o sempre se desvanece...



O que me doí não é o que se faz deste dia. É o saber que aquele que poderia ser sempre, iludido e enganado, simplesmente não o é. O que dói é a falta de coragem (sim, a minha também!) para a mudança ou para a persistência. O que me dói são os mesmos conceitos, os de sempre, que na conta individual das necessidades e interesses de cada qual, se confundem e interpretam de mil e uma maneiras diferentes, construindo o individual, suavemente disfarçado de grupo. O que me doí é aquilo que pouco a pouco, sem se notar em nós se torna corrupto. O que me doí é esta falsa liberdade que insistimos em viver dentro da enorme liberdade que hoje dizemos aos infinitos ventos ter. Mesmo que os ventos se quedem perdidos pela distância. O que me dói é perceber que não se aprende com o que não se viveu. Talvez seja tão difícil aprender quanto viver. O que me doí é vermo-nos à espera dessa tal liberdade que “havemos de reconquistar”, enevoando ou deixando enevoar caminhos, em vez de a construir e viver no simples gesto ou movimento e na soberana opção e ação de momento a momento, à medida que nos edificamos no tempo. O que me doí é não sabermos dar os passos – um após o outro, nessa qualquer outra direção. O que me doí é ter tanto para dizer sobre este sempre que nalgum outro sempre para sempre se demorou. E não chegou a este agora. O que me doí é a falta de esperança no corpo, mesmo que a voz constantemente se exercite para (sempre) voltar a dizê-la e, como que em sonhos, a vivê-la apenas por fora. O que me doí é o facto de tudo isto muito provavelmente não doer assim tanto. E amanhã ser outro dia, esse sim – no fundo – o de sempre, o mesmo dia. Por enquanto...
25-04-2015