quinta-feira, janeiro 19, 2012

Para ti

É pelo olhar que me vejo, pelo ar que me cheiro e respiro, pela boca que me saboreio, pela pele que me toco. É pelo vento que me elevo, pelos raios de sol que me aqueço, pela terra crente que caminho, pelos sons e silêncios que me guio. Tudo isso me faz chegar aqui e escrever-te. Tudo isto me trazes, sem o saberes, enquanto caminhas em mundos que sempre existiram em nós. E tudo isto sem me veres, me deste a viver. Como deixar então de escrever para ti? Quanta maior distância me trespassa nos relógios, calendários, ruas, cidades e outras eternidades, mais me chegas perto e com mais forma me sinto perto de ti. E querer dizer que te amo, e que nunca o deixei de fazer. E querer dizer que há amores eternos no sentir de cada coisa que encontramos no dia a dia. Que pode ser que nunca nos reencontremos, mas que serei sempre tua. Porque me deste olhares novos com que vejo, cheiros que, com sofreguidão respiro, sois de todas as estações que na pele pressinto reinventados em canções, chuvas de Março, areias de tempos sem dono, as mãos com que os dedos se entrelaçaram, os abraços que na memória revisitamos. Deste-me ventos de fantasia, sementes de alegria e uma ou outras lágrima, apenas para as feridas lavar. Deste-me passos. Deste-me paisagens. Fizeste-me caminhar. Passos para seguir para qualquer lado, passos que me fazem também regressar. Deste-me passos que caminham para longe da solidão. Por tudo isso não posso deixar de te escrever, de te amar, de te ter, de te ser. Só existirão despedidas para lugares, tempos e outros amares. Só existe um único adeus para a moribunda paixão. Somos sempre partes de quem por dentro nos viveu. E vamos indo com o tempo, ou com o vento, para onde ele nos levar. Entre a terra e o céu.

1 comentário:

burbulha disse...

Que bonito...maravilhoso, continua a escrever sffv