terça-feira, março 28, 2006

Por um abraço

Lago Balaton (Hungria)
Hoje quero escrever "saudade" na minha (nossa) parede...


Por um abraço

Quero um abraço que me desfaça.
Quero um abraço que traduza o silêncio e me transcreva no mais íntimo futuro em mim.
Quero o abraço que ateia a distância, que corta o tempo em pedaços prontos a saborear, fáceis no paladar, simples de engolir.
Quero o abraço cumprido pelo desejo de mil e uma noites a suspirar, onde os sentidos são adiados, onde os segredos não são de ninguém. Quero o mistério claro dos momentos que sobram dos sonhos, os quadros reais marcados pelo lápis da obrigação e das respirações a cumprir. Quero o choque da pele, o embrulhar dos braços, o encaixe justo do corpo, o desvanecer instantâneo do frio. Quero o instante da pedra concreta e crua que cobre a rua, porque te percorro já constantemente na abstracta e mágica névoa que sobrevoa em mim sem tempo. E aí és príncipe e sapo e cavaleiro e sapato que me serve sempre no pé. O poeta mascarado de mago, o artista descoberto pela sina de um sonhador. És o sábio trovador de vento e pó e nada. A razão para dormir acordada, entre o antes e o depois.
Quero agora o abraço que desperta os dias, que sacode os sentimentos entorpecidos, que desencanta a cidade inexistente das ilusões tatuadas pelo silêncio e pelo luar.
Quero cair no teu fundo. Enraizar o meu olhar no teu passo seguro, sereno, sensato, controlado. Escorregar no teu sono, torná-lo desconcertado. Agarrar as mãos dispersas e voltar a aquecê-las para puderem tocar.
Serias então o veneno do vento que atormenta os pensamentos e liberta as sensações. Serias o abraço que sussurra segredos ao ouvido e sopra desafios no pescoço. Serias o abraço determinado, o remendo de sobras passadas, o abraço construído com dois corpos, sangue, suor, pele, osso.

(Publicado no DNjovem em 2005)

segunda-feira, março 27, 2006

" Um espírito que se expande até uma ideia nova nunca mais regressa à sua dimensão inicial."

domingo, março 26, 2006

Elementos do toque

O toque.
Um miraculoso ponto de pele que sucumbe leve noutra pele desprotegida, levando os dias de espera que nela se escondem despidos, e foge logo em seguida. Um segundo de aconchego quente que destrona a eternidade e reina na palma da mão. Um vento que brota e morre no mesmo instante na raiz da própria morte. Um país que invade os sonhos e os deixa perdidos no ar. Um suspirar fumegante de um silêncio sussurrado pelo balanço do chão, onde os passos cantam e a calçada teima em desfazer-se com o luar. Água que queima a sede. Terra que se evapora em calma tremida. Calor que transpira o olhar onde a alma tépida transparece vencida pela paixão.
O toque. Lágrima que escorre pela pele vazia, sacudindo célula a célula, a imensidão e a melancolia. Noite que se esquece de escurecer. Noite que se casa com o dia e detêm o entardecer. Tempo suspenso no amanhã que se esquece de pisar e confunde o pensamento. Palavras indecisas trocadas pela pele e tocadas pela vontade de amar. Silêncios amachucados pelo respirar dos dedos que se soltam descuidados, sem momento ou direcção.
Sobre este toque, o sabor a infinito, o perfume da ilusão, o gosto pelo desconhecido, e a pele da emoção.

sábado, março 25, 2006

Entre terra e céu

Mar Adriático (Senj - Croácia)

Hoje pendurei na parede a memória deste lugar. Um mar imenso, calmo e cálido que me lavou o cansaço e me fez vaguear como se estivesse em casa. Um aconchego que atravessou o tempo.

sexta-feira, março 17, 2006

Paredes brancas, para quem quiser...


Paredes brancas onde nos encostamos para descansar e contemplar. Paredes brancas para pintar de cores e voltar a pintar de branco. Paredes brancas para colocar retratos, para deixar recados, para pregar pregos, para pendurar quadros. Para passar... simplesmente por elas, como se não existissem ou como se não tivessem um fim...