domingo, fevereiro 16, 2014

Deste lado

Quando o ar nos engole e nos cospe para fora da realidade onde sempre vivemos, faz-nos rastejar sem corpo, e soluçar sem água. Faz-nos perder o ultimo toque da luz que nem à memória nos chega por ser tanta a sua distância. Faz-nos suspirar sem som, e calar sem ter palavras para o fazer. Faz-nos desistir de o ser. De entre tudo o que resta permanece apenas um lugar vazio. O vazio, mestre nas suas infinitas paisagens. Por fim os olhos fecham-se.

Quando sem nos apercebermos se abrem, o que anteriormente se viveu flutua num espaço limitado e pouco iluminado, onde o sangue se sente e se segue. Teima em constante retorno dentro de mim. Está na minha frente, precoce, inconstante, frágil e renitente, a réstia de uma qualquer esperança a chegar a mais um dia sem que este pareça sem fim. Sobreviveremos sempre aos sentidos trocados, às palavras dolorosamente cravadas, aos abraços descuidadamente deixados noutro tempo e aos beijos desencontrados, às mãos que deixarão de ser dadas. Sempre. É a esperança teimosamente a fazer-se vencer.

Sem comentários: