sexta-feira, janeiro 20, 2012

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Hoje resolvi disfarçar-me de solidão. E é tão bom o meu disfarce que quase acredito que é solidão, realmente, aquilo que sinto...

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Para ti

É pelo olhar que me vejo, pelo ar que me cheiro e respiro, pela boca que me saboreio, pela pele que me toco. É pelo vento que me elevo, pelos raios de sol que me aqueço, pela terra crente que caminho, pelos sons e silêncios que me guio. Tudo isso me faz chegar aqui e escrever-te. Tudo isto me trazes, sem o saberes, enquanto caminhas em mundos que sempre existiram em nós. E tudo isto sem me veres, me deste a viver. Como deixar então de escrever para ti? Quanta maior distância me trespassa nos relógios, calendários, ruas, cidades e outras eternidades, mais me chegas perto e com mais forma me sinto perto de ti. E querer dizer que te amo, e que nunca o deixei de fazer. E querer dizer que há amores eternos no sentir de cada coisa que encontramos no dia a dia. Que pode ser que nunca nos reencontremos, mas que serei sempre tua. Porque me deste olhares novos com que vejo, cheiros que, com sofreguidão respiro, sois de todas as estações que na pele pressinto reinventados em canções, chuvas de Março, areias de tempos sem dono, as mãos com que os dedos se entrelaçaram, os abraços que na memória revisitamos. Deste-me ventos de fantasia, sementes de alegria e uma ou outras lágrima, apenas para as feridas lavar. Deste-me passos. Deste-me paisagens. Fizeste-me caminhar. Passos para seguir para qualquer lado, passos que me fazem também regressar. Deste-me passos que caminham para longe da solidão. Por tudo isso não posso deixar de te escrever, de te amar, de te ter, de te ser. Só existirão despedidas para lugares, tempos e outros amares. Só existe um único adeus para a moribunda paixão. Somos sempre partes de quem por dentro nos viveu. E vamos indo com o tempo, ou com o vento, para onde ele nos levar. Entre a terra e o céu.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Alice no País das coisas simples


Alice não acredita em duendes e não acredita em maldições. Mas acredita em vestidos brancos esvoaçando no vento e acredita em canções. E talvez acredite em fadas. Não acredita em conspirações e enredos mas acredita em tímidos e inocentes segredos.
Alice sonha em viajar pela terra e pelo tempo, pelo braço do seu amando. Alice gosta do seu abraço. Alice adormece todas as noites pelas melodias das cordas da sua harpa encantada. E tempo após tempo revê-se no seu olhar iluminado. Alice estremece quando o ouve dizer que não temos idade, e que a liberdade é igual a um dia de sol e de passos leves pela praia, e de noites sem amanhã, e por vezes sem manhãs. A vida é simples ao seu lado. A vida é maior. E é exactamente, claramente aquilo que é.
Alice não acredita em teorias e mecanismos de distorção que deixem o olhar enevoado e que nos impedem que o sorriso vença, e o seu amor cresce proporcionalmente com essa descrença. Alice acredita que no mais profundo olhar cheio de água, existe ao mesmo tempo o maior dos sorrisos. E como é grande o olhar e o sorriso do seu amado! Sabe bem disso.
Alice gosta de caminhar descalça pela areia da praia, e de tropeçar pelos seus passos distraídos com outros sentidos, nas pedras que lá se escondem partidas em mil pedaços. De mil e uma cores e formas. Carregando com elas todo o peso que delas sentimos quando as carregamos. Alice gosta também da forma como nos sentimos quando amamos.
Alice é uma alma pura, como todas aquelas almas que existem antes de nascer. E nada sente que tem a perder, por acreditar nascer dentro de si todo o amor do seu amado e do mundo.
Acredita na liberdade das estrelas, aquelas que seu amado lhe deu um dia a rever, numa noite de amor profundo. São para ela entes mágicos de claridade no vasto universo feito seu, o céu, ao invés de estanques e prisioneiros pontos de luz extinta no tempo que longamente se estende, inexistentes no seu próprio tempo por se terem já apagado estafadas, após longa viagem por tantos anos luz (quem saberá, talvez por lá morassem as fadas).
Alice dança quando a música lhe chega do ventre iluminado. E canta quando os silêncios lhe segredam melodias ensinadas pelo seu amado. Alice, em quase todos os momentos, apenas sente.
Alice gosta de observar as pessoas à sua volta e descobrir-lhes as necessidades das almas muitas vezes despedaçadas pelo pesado medo diário de mentes em paixões abafadas, oferecendo o seu sorriso como bálsamo tantas vezes necessário. Alice vê. Alice alimenta-se também dos diversos bálsamos que lhe oferece o seu amado. Alice gosta de letras e de histórias e de ouvir contos de um outro tempo passado, onde tudo era mais simples. Onde a chuva era molhada e o calor era apenas quente. E quando vê e ouve o seu amado, gosta do que sente.

Alice vive num jardim de flores conhecidas, as mais belas e apetecidas. E nela não reconhece essa raiz endiabrada das ervas daninhas, que se lhe parece a mais bela de todas, no jardim que ela própria plantou e cuidou. Alice não distingue julgamentos de beleza e cor dentro da sua vida. Alice não gosta muito de adivinhas.
Alice não acredita na dor. Não percebe porque as palavras caladas em si incitam a gritos constantes de um outro lado da cidade. Não percebe porque não pode viver o mundo livre para o amor. Tal como o seu amado. E também Alice acredita na liberdade.

Alice desenha-se mulher em cores e imagens de futuros onde já viveu e que já sonhou, mas que nunca com o seu amado partilhou.
Alice gosta do corpo que sente quando o seu amado a toca, mesmo que de relance. Alice gosta de sentir o seu corpo e o corpo do seu amado. E ama o seu abraço. E com ele estremece, e teme. Alice, no país das coisas simples e presentes, sente, estremece, pressente e teme. Alice que a vida tece. Sim. Estremece.

Alice vive no país da simplicidade.
Alice vive o que se lhe apresenta, e não o que se aparenta. Vive no país das realidades presentes. Vive com o seu amado todos os sentidos neles existentes. Toda a simples inocência. Vive com o seu amado o inquestionável e inevitável reflexo de sua existência. Vive a viver, simplesmente.
E assim os dias lhes passam. E o amor prevalece. Real, verdadeiro e simples. Só o amor permanece. Alice perde a idade. Só o amor lhe pertence. Real, verdadeiro e simples. Nos braços de uma outra amante os braços do seu amado noutra noite adormecem. E noutros olhos alheios a sua luz se passeia. Alice descobre então que todo o amor que sente, apenas persiste por ela. Que nela tropeça por vezes a dor. E que essa ideia, como todas as outras coisas, é real e simples. Como tudo o que resta do amor.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

As nossas palavras (dando corda ao tempo que continua inconstante)


São estas as palavras que se nos descrevem por aqui.
Já senti perder de mim infinitas frases vencidas pelo tempo que nesses maleaveis e inconstantes momentos, correndo, as apaga da memória. Frases que julguei morrerem antes de se reverem nos transparentes soluços e sorrisos do mundo. Perdi muitas vezes o momento e mais uma vez o tornaria a perder não fossem as palavras. Quando as lerdes, não mais estarei nestas páginas em vida, apenas num qualquer imparável tempo. Quando as lerdes será teu o questionável adivinhar das paixões que gero em formas dispares, incontroláveis e imprevisíveis. Será teu esse fosso que separa este presente do teu olhar. Será tua a próxima palavra. Próxima do teu exacto segundo, próxima desta tua leitura em contratempo. Poder-te-ia então substituir por outros nomes e pronomes e assim deambulando na ilusão das palavras concretas e presentes faria com que, quando as lesses, fosse nosso esse fosso que separa este presente de qualquer olhar. Fosse vossa a próxima palavra.
Assim seja.
Assim se sigam então as almas puras geradas de forma perfeita, inteligente, irónica, ilusória, e estratégica pelas mentes esperançosas e optimistas. Onde os sorrisos não terminam, as crianças choram lágrimas claras, os sonhos iluminam dias em tormenta, que se desfazem em nada. De que são feitos os sonhos afinal... Esses perfeitos e iluminados mundos e sentidos ainda a construir mas já tão conhecidos, sábios, feitos anciães por demais conhecidos dentro de nós. Onde os feitiços constantemente se renovam e se (a)teiam com linhas de vontades, desejos e imaginação. Onde não existem pensamentos. Onde o medo se esconde, transparente. Mas ainda persiste, marcado na alma, mesmo quando se perde.
És etéreo na forma de te dar. Sou terrena na forma de te recordar. Quisera ser inexistente na forma de te imaginar e persistir. De vos imaginar. Sois vós que me fazeis existir, nada realmente surge apenas de mim.
Mesmo estas palavras com que agora esta esperança descrevo, não me pertencem, caíram apenas aqui. E muitos sonhos apaziguantes e improváveis continuarão constantemente a nos perseguir...

sábado, janeiro 14, 2012

Perder o Passado

Voltar-te a beijar. Voltar-te a sonhar. Voltar a escrever letras de canções distantes no tempo oposto aos sentidos. Perder o tempo. Perder o passado e o resto das letras que se desenham numa futura pagina branca. Não há tempos. Não há futuros por aqui. Perder o branco das páginas onde as letras se vão vivendo e me vão perdendo. Antes que morrendo em vão a luz de um dia, qualquer dia, não importa qual seja - dizes - voltar a sonhar-te para que nunca me esqueça também de esquecer. E já que os passados pela tua mão se transformam e desvanecem todos os dias, que se queimem também as memórias, que de lá nasceram e se criaram por mão própria. Não há tempos, mas as nossas músicas tem pulsações constantes e contradições crescentes, muito semelhantes. Não há tempos, mas os segundos demoram-se. Não existem tempos, mas as praias continuam esperando. E há futuros que continuam conspirando e segredando. Sei-te em mim em todos os tempos. Mas não existem tempos... E sem tempos sou livre de te amar também agora por aqui.

Voltar a sonhar-te, mesmo que os nossos sorrisos sejam apenas sonho ausente. Voltar-te a beijar para te recriar no tempo de que és descrente. Voltar. Só pelo desejo que voltes a mim.