sábado, junho 24, 2006

Metamorfose inconstante



Desta vez dei por mim entornando lágrimas de cansaço
Sobre as terras necessitadas, ressentidas
E abandonadas de abraços.
Uma provocante enchente nas carências desabitadas
De uma planície distante, constante e vazia
Onde só se encontrava o dia.
Nem estrelas, nem luas, nem passagens pernoitavam nessa região
Onde pedaços de vento calcavam imóveis
Qualquer miragem, qualquer ilusão.
Na aragem morta da seara inexistente,
A água correu
E do pó nasceu o mar,
Com o mar veio a maré
E com a maré o luar.
Do salgado chão sedento
Cresceu um céu azul nocturno e estrelado
Espelhado em mar e alento.
A tinta escura da noite manchou o momento estanque
Enquanto olhava de mim mesmo outro reflexo,
Noctívago e sem pranto.

Uma gota de outro tempo e outro espaço
Secava ao relento.


(publicado no DNJovem em 2001)

1 comentário:

Miguel disse...

Excelente!

BOM FDS!

Bjks da Matilde