sexta-feira, maio 26, 2006

Sempre de volta a um outro eu

Depois de todos os sonhos de amor escritos em ti, volto a querer o calor que de mim se perde quando a lua nos espera. Depois dos sorrisos que se desprendem do meu olhar, volto a sussurrar esperas e canções distantes, perdidas pelo cansaço e pela saudade. Depois do turbilhão de mãos ajustadas aos sentidos, volto a pertencer ao vento veloz que me conduz a casa. Depois das solidões desmentidas, volto ao ciclo das marés sem nome e aos passos calados pela despedida. Depois dos pianos descalços, oiço a escuridão dos braços apertados que chegam em miragem sobre mim. Depois do encantamento demorado da vontade, sigo as folhas de um Outono sem lei nem dono, que caem como penas ao chão raso de emoção. Canto canções distantes que se ouvem depois de se ouvir o suave eco da memória. Depois de alcançar a tempestade sigo atrás da espera desorientada da calma conduzida pelo perdão. Perco a névoa embaraçada pela razão, por não saber como olhar outro rosto na tua imagem, outra morada na rua incontornável das sensações que nos caem na alma. E sem mais a sentir sobre as palavras desleixadas e entregues nas mãos do passado, escrevo caminhos desamparados que me conduzem à história que se entorna em mim. Sigo nascentes e muros e janelas e talvez algum sonho perdido, onde a luz do dia se reflecte. Sigo os pensamentos que se prendem e empeçam constantemente no sempre demorado presente.

(Outubro 2002)


(Aos que se reinventam depois das tempestades)

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