terça-feira, abril 18, 2006

Cosmos

Desde que te conheço em mim, que em mim mesma me revejo.
Organizei secretamente novos sentidos, harmonizei para ti todos os gestos do coração.
Cobri o céu com a leve escuridão dos dias soltos, e os sonhos com noites eternas embrulhadas com o passar equivocado do tempo. Aconcheguei-me na imensidão imponente das mil e umas luas. Contemplei-te afeiçoada em cada uma delas. Perdi a contagem das estrelas, as certezas etéreas desenhadas pelos sentidos. Conto agora com olhos atentos ao mundo: delicados momentos que flutuam entre a fobia de resistir ao tempo e a paixão. Não existe amanhã no infinito. Não existe nem aqui nem agora que detenha a luz que viaja no meu contorno. Não existe lugar que me separe do retorno a ti. As estrelas não fazem sombra neste deserto em que te reclamo. E o deserto reflecte o tempo que contorce, contorna e compromete tempos passados.
Desde que te conheço...
Divago em pontos que nos unem como projécteis que se desembaraçaram do espaço. Invoco descobertas de um sol que se soltou do reflexo no mar. Encontro mares indefinidos esvaziando-se no buraco negro que coloquei em torno do meu olhar. Nublada aparição do meu amor reencontrado.

Repouso o amor sobre ti. Repouso a génese solene do amor sobre as velas apagadas do que resta da noite. Onde antes se extinguiram também as estrelas e renasceram esperanças demoradas, descubro agora uma trégua. O descanso dos cantos em silêncio junto ao mesmo mar de um conhecido antigamente. Anos e anos sem tempo nem espaço entornando-se no ponto de partida do um sentimento oculto.
Não existem mundos entre o nosso abraço. Desde que te conheço em mim, apenas um imensurável tudo que nasce de um nada absoluto.

Mais um texto sobre a procura e o encontro na outra pessoa ou talvez apenas, novamente, um espelho. Uma repetição de mim mesma...

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