quinta-feira, dezembro 28, 2006
sexta-feira, dezembro 08, 2006
Linha sem tempo
Perdem-se, de tempo a tempo, os desejos mais apetecidos.
Soltam-se somas pesadas das recomendações diárias que o mundo me sussurra constantemente. E essas nossas verdades assumem contornos dispersos. A contagem dos minutos transforma-se no mais ausente dos meus sentidos. Aceito-me, com prazer, na imensurabilidade dos meios-termos, o novo mundo das intensidades secretas que se concebem entre os opostos. O reviver cada dia de uma só vez. Criar o momento mais concreto, escondido para outros sorrisos, entre o tudo e o nada. A calma de saber existir.
Existo e persisto.
Os dias contornam-se com novas formas e preenchem-se com outras tonalidades.
As linhas largadas, esquecidas e estagnadas em folhas revistas e rasuradas pela demora, já não te perseguem. Os teus rascunhos de um tempo futuro não pertencem a esta nova forma de me traçar sem tempo.
Deixo contigo a demorada despedida e a mala cheia de toda a roupa despida depois de te ter beijado de novo.
Abraços que se perdem junto a lágrimas que ainda teimam em persistir dentro de nós.
Os olhos nublados que ganham um eterno tom cinzento.
Resistir às lágrimas como se o corpo tivesse vontade própria.
segunda-feira, novembro 13, 2006
quarta-feira, novembro 01, 2006
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minutos da cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta -me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer"
Mia Couto
Raiz do Orvalho e outros poemas
Editorial Caminho, lisboa, 1999
Enquanto preparo novas palavras... em breve.
segunda-feira, outubro 23, 2006
quinta-feira, outubro 12, 2006
Saudade de um quase nada
Quando o mar se esbate e a luz é mate.
Quando amantes apressados regressam dois a dois
E não existe ainda o depois,
Quando o cansaço repousa num beijo
E o medo se entorna no desejo,
Quando sorrisos se abrem em olhos sem cor
E a vida se sobrepõe ao pudor;
Tudo é mentira e tudo é verdade,
E sente-se na indiferença a saudade.
P.s.: A vossa atenção para "este lugar". A ler os links para mais informação. Eu subscrevo e agradeço a iniciativa.
quarta-feira, outubro 04, 2006
quarta-feira, setembro 20, 2006
Meia hora numa estrada sobre o mar
Meia hora é o tempo que demora o passado a passar.
(Publicado no DNJovem em Janeiro de 2003)
terça-feira, setembro 12, 2006
sábado, setembro 09, 2006
terça-feira, agosto 29, 2006
Nova passagem para outro tempo
quinta-feira, agosto 24, 2006
Sobre estrelas...
De novo em casa. Folheio sem pressa algumas páginas dos meus recentes tesouros.
A primeira frase com que me confrontei, num céu muito pouco estrelado :
" - As pessoas têm estrelas, que não são as mesmas para todas elas. Para uns, os que viajam, as estrelas são guias. Para outras não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram ouro. Todas essas estrelas, porém, permanecem caladas. Mas tu terás estrelas como ninguém tem..."
Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
(Vega, 1.ª edição,1994, pág. 91; Tradução de Alice Gomes)
Pergunto-me como serão? ...
domingo, agosto 13, 2006
O fio da memória
O reflexo dos raios de sol que ainda não amanheceram.
Reflecte em mim mares dispersos, quartos demasiado quentes ou planicies de céu, desbotadas e rotas.
Corre apressado, agarrado ao tempo, gastando-se em si.
Até ao fim, permanecendo apenas numa gota.
(Na parede coloco hoje também a minha mais recente descoberta e paixão: fotografar. Formas, cores, texturas e sensações disponiveis em Olhares)
quinta-feira, agosto 10, 2006
Razões para te agradecer
Porque semeias as perguntas através dos olhos que prolongam o horizonte.
Porque descobres folhas esvaziadas de encontros atordoados pela desilusão.
Porque amachucas as páginas que revelam a sombra das histórias inúteis e banais, e os sonhos que todos desejamos acordados.
Porque predizes anos sem vazio no vazio das palavras que caem dentro de ti.
Porque permaneces onde é preciso eu ir para te encontrar, sem dúvidas ou esperas sussurradas pelos relógios dos outros.
Porque me esperas entre as indecisões e os segundos dos receios inacabados, fugindo a cada passo nos pensamentos desabitados das gentes que nos rodeiam.
Porque não revelas os segundos que te separam do tempo e te descobres por dentro e em vão. Porque encontras em cada sossego, um novo pensamento e um novo chão no mesmo incontornável lugar.
Porque os anjos são teus amigos e o céu está longe de nós.
Porque a terra te inventa dentro do dia e te deixa entardecer.
Porque a noite nos embrulha para nos deixar descobertos na manhã crua sem nunca se esquecer de nós.
Porque a escuridão é uma nódoa nua onde se espelha a nossa solidão.
Porque o fim do dia se repete todos os dias em que estamos sós.
Porque eu me agarro à vida cada vez que te visito ao passado prolongado e projectado nas cidades onde o depois quer habitar.
Porque os sonhos não têm sitio onde pernoitar quando o teu calor chega, do fundo da rua. Porque as estradas ondulam quando os teus pés se sentam nelas.
Porque as calçadas se curvam quando sentem a tua miragem.
Porque eu me faço passagem quando te vejo passar.
Porque és cura na ausência de outras mãos que me possam agarrar.
Porque o abraço se derramou pela ternura desse sorriso sem mundo.
Porque este corpo não é suficiente para agradecer a aragem que te faz existir e onde podes suspirar e adormecer.
Porque te vejo na praia dos sentimentos que de mim se espraiam em imensidão.
Porque em ti descanso o grito feito a chorar pela ilusão de me perder.
Porque me faço existir sem te encontrar e talvez te ame, só e sempre junto ao mar.
(Publicado no DNjovem em Dezembro de 2002)
segunda-feira, agosto 07, 2006
Dá-me a mão...
sexta-feira, agosto 04, 2006
quinta-feira, agosto 03, 2006
quarta-feira, agosto 02, 2006
Nomes
terça-feira, julho 25, 2006
Sina...
terça-feira, julho 18, 2006
Encontro
Entre silêncios abandonados.
Singelos.
Coisas poucas,
Quase nada.
Aragem dispersa.
Ausência entre duas margens
Que se tocam e provocam,
Sem pressa.
Existências semeadas
Sobre medos paralelos.
Cala-se o tempo.
Perde-se o amanhecer
No teu cabelo,
E antes que saia de mim
A madrugada,
Num súbito instante
sou e sucumbo.
Inquieto o mar em mente,
Desperto o mar em prazer.
Violo impunemente
As aparências.
Consolo o calor e canso a calma.
Abandono a minha imagem
Na areia morta da praia.
sexta-feira, julho 14, 2006
Simplicidade
sexta-feira, julho 07, 2006
Beira-mar
Quando foi que te avistei?
Pressenti a minha vida
E na terra naveguei
Com noites abri a ferida
E com sonhos a curei.
Bálsamo calmo e vazio
Presença de um sol esquecido
Gelo frágil, só e frio
Cura da noite a lembrança
Lamento de um barco perdido
A paga a lenta esperança.
Visão que se apaga e repete
Repartindo o nevoeiro
Entre a planície e a serra.
A lua perdida das estrelas
Encontra por fim o veleiro
Que sem velas e sem lume
Promete ancorar na terra.
terça-feira, julho 04, 2006
sábado, junho 24, 2006
Metamorfose inconstante
Desta vez dei por mim entornando lágrimas de cansaço
Sobre as terras necessitadas, ressentidas
E abandonadas de abraços.
Uma provocante enchente nas carências desabitadas
De uma planície distante, constante e vazia
Onde só se encontrava o dia.
Nem estrelas, nem luas, nem passagens pernoitavam nessa região
Onde pedaços de vento calcavam imóveis
Qualquer miragem, qualquer ilusão.
Na aragem morta da seara inexistente,
A água correu
E do pó nasceu o mar,
Com o mar veio a maré
E com a maré o luar.
Do salgado chão sedento
Cresceu um céu azul nocturno e estrelado
Espelhado em mar e alento.
A tinta escura da noite manchou o momento estanque
Enquanto olhava de mim mesmo outro reflexo,
Noctívago e sem pranto.
Só
Uma gota de outro tempo e outro espaço
Secava ao relento.
(publicado no DNJovem em 2001)
terça-feira, junho 20, 2006
domingo, junho 18, 2006
Estação dos pensamentos
Sem cansaço.
Imensidões sem embaraço.
Serenos obstáculos que aportam na madrugada
Onde encontramos o espaço
Estilhaçado no chão.
Onde os sonhos passam lentos.
É um lugar de uma só cor a olhos abertos
Encobertos pela visão.
A boca cobra o silêncio sibilante que se derrete
Enquanto toca os lábios fechados,
Pedindo o seu perdão.
Lugar de tanto dentro de nada.
Traços sublinhados por caminhos cruzados
E o calor que seca o movimento:
Arde como a chama, voa como o vento.
Este é o lugar onde a vida faz eco no chamamento.
quinta-feira, junho 15, 2006
Respirar de novo
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("Respirar de novo"- Música: Pedro Guerreiro/Interpretação: Quarteto Zawaia)
terça-feira, junho 13, 2006
Sons de uma guitarra em espera
Caem-me dos dedos os sons que dedilham a guitarra. São gotas de ansiedade que encurtam a distância entre lugares improváveis e secretos que queremos visitar. Caem olhares perfeitos sobre a penumbra da música, sobre os dias que se seguem amanhã e depois, e depois do amanhã que voltará a passar. Volto a embalar-me nos abraços recém-desfeitos e a aconchegar-me nos sons que se soltam do teu olhar. Sou eu que te tento ouvir enquanto improviso melodias desassossegadas no caminho das notas que me saem nervosas. Os sons são momentos indecisos e improváveis que caem no esquecimento, assim como caem em mim os caminhos definidos e os sonhos delineados a névoa. Doce passagem do tempo que não conhece o percurso que nos leva para longe de casa. Doce improviso dos sonhos em constante mutação. Imprevisível improviso da imaginação. Dirias que tudo tem uma lógica certa, mas as certezas dos planos tranquilos e minuciosos não são mais do que sombras distantes das nuvens que sobrevoam outros países. Aqui não existem futuros e certamente também as promessas não cabem em nós. Só o som maleável deste momento e o improviso de duas respirações em contratempo. Só o passar dos segundos que caem inconstantes no meu pensamento enquanto a guitarra toca.
(2006)
domingo, junho 11, 2006
terça-feira, junho 06, 2006
Antes de partir
(Publicado no DNJovem em Janeiro de 2003)
Continuo a pendurar na parede fotografias do passado. São elas que reflectem o presente neste momento... Em breve mudarão os sentidos e partiremos para outros lugares. Já se sentem no ar os passos que o amanhã seguirá.
terça-feira, maio 30, 2006
sexta-feira, maio 26, 2006
Sempre de volta a um outro eu
(Outubro 2002)
(Aos que se reinventam depois das tempestades)
quarta-feira, maio 24, 2006
Saudade de casa
sexta-feira, maio 19, 2006
Silêncio em contratempo
Tentei decifrar o código secreto e inoportuno dos aglomerados conceitos que por mim iam penetrando, fundindo-se impassíveis com o deslizar de uma luz baça criada pelo balanço do tempo, que escorregou no vazio. Movimento congénito de um princípio sem fim. Realidade controlada por uma existência aparente, quando se respiram medos, suprimindo o ar, e se olham os segredos da alma, ao invés de se olhar o mar.
Dei por mim na demora de uma quietude compulsiva, sem latejo nem pulsação, ansiando encontrar o trajecto de retorno aos contornos do coração. Uma persistente pausa de luar e vento amachucou os sentidos sem endereço e estancou a demora de uma imagem desfocada e angustiada onde me revi. Descrevi-me tal como o poema que se constrói apenas pela rima.
Passearam pelas paredes desenhos das sombras do mundo e a contagem de um tempo edificado antes dos relógios que agora persistem por aqui. Pêndulos partidos pelo fantasma da vontade de regressar. Passaram por aqui estações de contemplação e alento, e estradas sem origem, nem berma, nem assento. Eternidades longínquas onde vos entendi com outras linguagens e desejos.
Outros sons nasceram conquistando, impiedosos, cidades de desamparo que amainaram a desilusão. Triunfaram relatos de escritos sem passado onde a espera tornou-se cura e os apelos caíram no chão.
Resisti com esse olhar confuso onde as lágrimas querem imitar os rios.
Descansei então o peso dos relatos de futuros que nunca vivi. Dei por mim a ultrapassar sonhos que atravessaram imunes, a sombra das derrotas e das saudades por cumprir. Revi-me em pecados impunes que ninguém presenciou nem renunciou. Sobrevivi a este silêncio solene, embalando-me na passagem dos devaneios rebeldes que também adormeceram por fim. Depois, dei por mim a sorrir.
(Publicado no DNJovem a 19 de Maio de 2006)
(Porque, por vezes, os silêncios dão voz aos imensos, complexos e enleados mundos que passam por nós)
quarta-feira, maio 17, 2006
A parede e a solidão
Na parede branca passou, passeando, uma solidão sem sombra. Restou a imagem dos passos lentos, pesados, sem tempo nem direcção, que deambularam à procura de um passado ou de um abrigo... Fugindo vagarosamente da calma que a condenava... Restou a parede branca. A solidão não abarca o apelo da luz alva nem o apego dos dias claros de sol...
domingo, maio 14, 2006
Éden
Que os deuses repousam;
Nessas sombras brancas
Onde se espelham as nuvens,
Onde o som sossega e o silêncio cai.
É pelo olhar distante
Que o sono se entorna
Gota a gota
Sobre a cama vazia
E a manhã recorda,
Serena e atenta,
O acordar de outro dia.
É sobre o teu respirar lento
Que a luz expira, cansada,
E a lua se casa com o vento.
É no amanhecer das pedras
Que os deuses sonham.
As folhas caem, atordoadas pelo tempo,
Na calçada deserta, onde os passos calam.
Nelas se escrevem outras lendas,
Outros abraços.
É a distancia do corpo
Que as lágrimas anunciam;
Ponte suspensa em margem alheia.
É no segredo do mundo
Que a alma vagueia,
É no segredo das almas
Que os deuses suspiram.
(Dezembro 2001)
terça-feira, maio 09, 2006
sábado, maio 06, 2006
Silêncio e humidade
Secaste sozinho as tuas lágrimas, já não me deixas lavar nelas. Calaste as canções e os anúncios da rádio. Trancaste os sons da noite, o noticiário e os relatos de futebol. Levaste o vento que assobiava na janela e na velha chaleira. Os vidros enevoados da água a ferver para o chá. Calaste os sorrisos.
Tudo é silêncio e humidade.
O silêncio é a língua dos corpos sem sombra. É a massa invisível do toque. O recanto, o soluço, o gesto, o sonho, o sossego, o futuro, o espaço mais embaraçado da alma. A casa.
O silêncio é o passatempo dos sonhadores imóveis e o retracto dos aviadores de esperança quando acabam por aterrar. O contratempo dos condutores de vazio que vagueiam sem se notar, espectros inoportunos que acenam desejos ocultos e beijam as mãos antes de as tocar.
O silêncio é a viagem embaciada e desfocada que concebo dos teus olhos.
Tens a dádiva de os ler. Foi essa a língua que aprendeste a usar.
Descreves a vida dos sons mudos que te caem no olhar. E eu recebo-os como a causa que anuncia o desbotar dos sentidos. O ensurdecer das tentações. O tombo inquestionável das resignações fúteis.
Tudo é silêncio e humidade.
Quiseste realçar o pó nas paredes imóveis e despedaçar os vasos com flores secas que não cuidei. Ordenaste a passividade dos sonhos. Construíste-me absorta nos teus pensamentos que já não se escrevem aqui. Sem me aperceber, aqueceste-me na lareira sem lenha, antes de sair.
Amontoado de lume prestes a estrear, acondicionado num sopro de memória. Vento bafio que permaneceu no teu lugar. Sueste nocturno enclausurado na raiz de uma antiga e afeita vontade que não se pode cumprir.
Perdi os recados e as anotações da vida em dicotomia, choquei de frente contra a luz insípida da manhã, cruzei com perícia o caminho dos sonhos e da monotonia.
Creio que chorei. Julgo que te humedecia também o olhar.
Enquanto secava lagrimas desfiadas pelos sons das lembranças corrompidas, fugias dos silêncios que tinha guardado para te dar.
segunda-feira, maio 01, 2006
Chave e fechadura
sexta-feira, abril 28, 2006
Memória em contratempo
Entras. Sentas-te ao pé de mim, joelho com joelho, sorriso com sorriso, tudo o mais seria indiscrição. Mas sou eu que prenuncio a devolução de um passado longínquo e nada mais existe que o inexistente ao nosso lado.
Ofereci-te algo, não me recordo o porquê. Nem o espaço das conversas alheias que saíram de outros cantos da casa. Nem tão pouco o tempo e o lugar onde te adivinhava.
Dizes que sim com o olhar, aceitas a minha proposta mas desejas algo mais das horas que consomes ao pé de mim. Não o admites ainda. Ou não te conforta o facto de eu me aperceber. Pareces ansioso. Começas a falar.
Solucei suaves suspiros por não te contar as minhas ilusões. E inquietei-me com as tuas palavras, por não as conseguir ouvir com a nitidez da emoção. Tremi de te encontrar por perto. Ouvi-te e divaguei. Voltei a ouvir.
Divagas nas palavras e nas imagens que foram gravadas na memória do dia. Os passos do caminho de casa e as noticias lidas à pressa num jornal de café. A análise das situações, as outras pessoas. Falas da vida dos outros, dos sonhos que vês e dos futuros que prevês. Nunca realmente de ti, sobrevives talvez nas entrelinhas das histórias que me deixas desvendar.
Baixei o olhar. Talvez tenha corado. Esperei.
Pousas a mão no meu joelho. Falas de algo como se eu não estivesse realmente a ouvir. E não estou. Sigo as tuas palavras que formam sentidos coerentes à leitura de uma razão distante mas sigo também outros pensamentos em seu lugar. Não te quererás demorar.
Seguras na minha mão com a mesma facilidade com que continuas a debitar o que mecanicamente te sai da mente. São duas as linguagens que falas neste momento. Não sei qual a que deva escutar.
Perdi a ordem dos momentos, no exacto momento em que me perdi em ti.
Levantas-te, junto com as palavras, e levas-me contigo. Devo seguir-te e obedecer aos passos que calcam as datas e as decisões.
Quis saber dos teus anseios incompletos e das esperas pelas pequenas coisas inconstantes que tanto te faziam feliz. Quis rever-te no meu entendimento.
Questionas os meus desejos, e levas contigo os beijos de um quartos às escuras que pedes, roubas, sem me devolver. E eu dei-tos pelo pulso da vontade de me aventurar.
As mãos cruzam-se de novo, as mãos escondem o imprevisível. Tocas-me em sítios inacessíveis ao toque da visão. O pulsar das fantasias inocentes, o embate de te julgar conhecer eternamente.
Faltou-me o ar porque respirei outros motivos para te reencontrar. Faltou-me o medo de perder a tua imagem.
Perguntei-me mil uma questões de silêncio para que as adivinhasses e me devolvesses a razão dos dias seguintes.
Levantas-te e caminhas em passos lentos e descrição imponente. Abro-te a porta para que te despeças de mim.
Nunca mais regressaste do passado desde então.
quarta-feira, abril 26, 2006
segunda-feira, abril 24, 2006
Canção de Embalar
É no soluçar do quarto vazio, cúmplice de silêncios e sonhos antigos, que remendo o presente e repouso os sorrisos dos dias que o vento levou.
O vento comanda esta noite de abrigo, com trancas nas portas e medos suspirando nas janelas. O vento assobia melodias que divagam na solidão dos pensamentos. Passeia-se pelas paredes e toca impiedoso nas feridas da escuridão cerrada. O bafo intenso de uma noite cheia, de luar manso e pretensioso que penteia os meus segredos e alimenta os meus fantasmas serenos. Um sopro mendigo que sucumbe às mesmas palavras. Sopro do desejo de não pertencer à impenetrável perfeição.
Desfalece sobre o mundo a luz da memória e a consciência dos sentidos. Adormeço o universo num só inspirar. Adormeço a demora em meu redor. Aguardo que o vento me leve pela noite à afectuosa espera que chegará cedo. Breve e convincente, a luz beberá do nosso olhar. Sucumbirei ao cheiro madrugador da celebração de um dia novo. A génese imaginada do paraíso quotidiano consagrado ao esquecimento pelo movimento das horas efémeras. Origem de todos os madrugadores inquietos, origem de todas as auroras sem razão.
O vento voga pela vontade de descansar, transpõe a barreira dos devaneios nocturnos. O vento passeia também nos meus pensamentos.
Falo dos horizontes que sopram nos sonhos das noites corrompidas. Falo apenas dos sonhos que caem incessantemente na raiz da divagação. Amanhã reconhecê-los-ei pelo nome. Amanhã tornar-se-ão a mais real prova da minha desilusão.
Descanso o corpo... Descanso a solidão já dormente... Descanso o olhar já sem nexo... Descanso e adormeço.
(Publicado no DNjovem a 21 de Abril de 2006)
sexta-feira, abril 21, 2006
Sobre a memória da espera
Perdida e desalojada das casas
Paradas;
Habitante das cidades sem cimento.
Segue-se o vento, solitário e sóbrio,
Sobre a estrada aberta;
Passam os passos perdidos
Por uma qualquer entrada,
Quase sempre deserta.
Entre uma e outra parede, soltam-se
Segredos em desalinho,
Desdenham os sorrisos enlameados
Entre as eras e as
Terras,
Secas por sóis estagnados.
Sobre vós descanso os desejos
Sem regresso.
Sossegam as palavras guardadas pelo tempo
E a sombra semeada pelo medo
De guardar silêncios,
De esconder linhas, cores, espaços e
Outras inseguras verdades.
Mesmo as saudades se esbotam no ar.
Escrevo ainda
A memória de tinta
Que ressoa no olhar...
São restos.
quinta-feira, abril 20, 2006
terça-feira, abril 18, 2006
Cosmos
Organizei secretamente novos sentidos, harmonizei para ti todos os gestos do coração.
Cobri o céu com a leve escuridão dos dias soltos, e os sonhos com noites eternas embrulhadas com o passar equivocado do tempo. Aconcheguei-me na imensidão imponente das mil e umas luas. Contemplei-te afeiçoada em cada uma delas. Perdi a contagem das estrelas, as certezas etéreas desenhadas pelos sentidos. Conto agora com olhos atentos ao mundo: delicados momentos que flutuam entre a fobia de resistir ao tempo e a paixão. Não existe amanhã no infinito. Não existe nem aqui nem agora que detenha a luz que viaja no meu contorno. Não existe lugar que me separe do retorno a ti. As estrelas não fazem sombra neste deserto em que te reclamo. E o deserto reflecte o tempo que contorce, contorna e compromete tempos passados.
Desde que te conheço...
Divago em pontos que nos unem como projécteis que se desembaraçaram do espaço. Invoco descobertas de um sol que se soltou do reflexo no mar. Encontro mares indefinidos esvaziando-se no buraco negro que coloquei em torno do meu olhar. Nublada aparição do meu amor reencontrado.
Repouso o amor sobre ti. Repouso a génese solene do amor sobre as velas apagadas do que resta da noite. Onde antes se extinguiram também as estrelas e renasceram esperanças demoradas, descubro agora uma trégua. O descanso dos cantos em silêncio junto ao mesmo mar de um conhecido antigamente. Anos e anos sem tempo nem espaço entornando-se no ponto de partida do um sentimento oculto.
Não existem mundos entre o nosso abraço. Desde que te conheço em mim, apenas um imensurável tudo que nasce de um nada absoluto.
Mais um texto sobre a procura e o encontro na outra pessoa ou talvez apenas, novamente, um espelho. Uma repetição de mim mesma...
sexta-feira, abril 14, 2006
Em tom de descanso
terça-feira, abril 11, 2006
Arquipélago
Raízes de céu em águas perdidas das nuvens
Amar na terra regada de um eterno jardim
E chegar em chuva
Ao mar que desagua em mim.
sábado, abril 08, 2006
Do outro lado de um espelho
Há um espelho pendurado na parede.
Nasceste sobre um momento infinito.
Nasceste mulher construída nos sonhos de um olhar feito procura, que balança contra o abandono inexistente e uma eterna loucura que se alimenta de mar.
Crescestes entre os sobressaltos das eternidades terrenas e o revolto contratempo das pulsações dos pensamentos que te caíram a seco e se feriram em vão.
Cresceste sobre o abraço alargado e desencontrado do corpo e do tempo. Sobre um outro sorriso que te abraça e desenlaça o esquecimento. A memória descoberta em embaraço, como sombra apagada de quem não fez e quem não quis fazer-se existir. Lembrança dos tempos em que soluçavas canções em silêncio e desenhavas sois e luas no pó dos vidros sem vida. Relembro o som dos sentidos vagabundos que te embalavam com o vento perto da minha janela, o olhar sonâmbulo que te arrancava para o mundo de lá, secando as lágrimas dos dias seguros e serenos, um pouco mais sonolentos, um pouco mais puros, um pouco mais eternos.
Revejo os desenhos da tua imaginação, os projectos despojados de qualquer objecto, qualquer reflexo de um amanhã. Guardo os sonhos vazios que fizeste e mudaste de lugar. Recolho em mim os passos perdidos e cansados por não caminhar. Recolho o ventre de onde te vi morrer, o lugar mais escondido deste reflexo. E recolho o grito alcançado por fim, sem a sensata companhia da dor.
Hoje carrego em mim a névoa da vida que se derrete e se transforma na manhã morna, hoje sucumbo à hemorragia dos sentidos que tentei apagar no outro lado do espelho. Hoje, depois de serem anunciada todas as mortes, nasces de novo em mim: esperança eternamente adiada no amanhã transformado em passado.
Passeio com sabor a sol
Mar ao largo com canção cantada por Elis Regina.
Uma simples delícia para mim... :)
O BARQUINHO
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão, o amor se faz
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar...
Sem intenção, nossa canção
Vai saindo desse mar e o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis.
Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade é de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
O barquinho é o coração
Que desliza na canção
Tudo isso é paz, tudo isso traz
Uma calma de verão
E então
O barquinho vai, a tardinha cai
O barquinho vai, a tardinha cai
(Roberto menescal/Ronaldo Boscoli)
quarta-feira, abril 05, 2006
Torre de papel
Aqui é inevitável
Queimar as rimas
Numa fogueira de espantos,
Despir as estantes de
Pós, livros e acasos,
Gastar os lápis com
Rabiscos pouco firmes mas
Planeados,
Soluçar pelos objectos
Espalhados no chão;
As fotografias rasgadas
Da nossa alma de tinta
Permanente mas permeável.
É tempo de
Denunciar as crenças
Maltratadas;
Adormecer pelo cansaço
Demorado
E velar durante a noite,
Antes de sonhar.
Aqui é permitido
Perder noites e dias,
E evaporar as vontades.
É aconselhado
Chegar à eternidade
De um olhar,
Descompassado.
Aqui é desnecessário
Desaprender a chorar.
(Publicado no DNjovem em Novembro de 2001) - Às vezes preciso viajar no tempo passado, para me lembrar...
segunda-feira, abril 03, 2006
O horizonte
Existem segredos nos sons desenhados pelo silêncio destas paisagens. Um espaço amplo onde o pensamento se contradiz: vai e vem, acalma e inquieta, afaga lembranças e combate a nostalgia. Dia sim, dia não... É um desafio e um repouso ao olhar.
terça-feira, março 28, 2006
Por um abraço
Por um abraço
Quero um abraço que me desfaça.
Quero um abraço que traduza o silêncio e me transcreva no mais íntimo futuro em mim.
Quero o abraço que ateia a distância, que corta o tempo em pedaços prontos a saborear, fáceis no paladar, simples de engolir.
Quero o abraço cumprido pelo desejo de mil e uma noites a suspirar, onde os sentidos são adiados, onde os segredos não são de ninguém. Quero o mistério claro dos momentos que sobram dos sonhos, os quadros reais marcados pelo lápis da obrigação e das respirações a cumprir. Quero o choque da pele, o embrulhar dos braços, o encaixe justo do corpo, o desvanecer instantâneo do frio. Quero o instante da pedra concreta e crua que cobre a rua, porque te percorro já constantemente na abstracta e mágica névoa que sobrevoa em mim sem tempo. E aí és príncipe e sapo e cavaleiro e sapato que me serve sempre no pé. O poeta mascarado de mago, o artista descoberto pela sina de um sonhador. És o sábio trovador de vento e pó e nada. A razão para dormir acordada, entre o antes e o depois.
Quero agora o abraço que desperta os dias, que sacode os sentimentos entorpecidos, que desencanta a cidade inexistente das ilusões tatuadas pelo silêncio e pelo luar.
Quero cair no teu fundo. Enraizar o meu olhar no teu passo seguro, sereno, sensato, controlado. Escorregar no teu sono, torná-lo desconcertado. Agarrar as mãos dispersas e voltar a aquecê-las para puderem tocar.
Serias então o veneno do vento que atormenta os pensamentos e liberta as sensações. Serias o abraço que sussurra segredos ao ouvido e sopra desafios no pescoço. Serias o abraço determinado, o remendo de sobras passadas, o abraço construído com dois corpos, sangue, suor, pele, osso.
(Publicado no DNjovem em 2005)
segunda-feira, março 27, 2006
domingo, março 26, 2006
Elementos do toque
O toque. Lágrima que escorre pela pele vazia, sacudindo célula a célula, a imensidão e a melancolia. Noite que se esquece de escurecer. Noite que se casa com o dia e detêm o entardecer. Tempo suspenso no amanhã que se esquece de pisar e confunde o pensamento. Palavras indecisas trocadas pela pele e tocadas pela vontade de amar. Silêncios amachucados pelo respirar dos dedos que se soltam descuidados, sem momento ou direcção.
Sobre este toque, o sabor a infinito, o perfume da ilusão, o gosto pelo desconhecido, e a pele da emoção.
sábado, março 25, 2006
sexta-feira, março 17, 2006
Paredes brancas, para quem quiser...
Paredes brancas onde nos encostamos para descansar e contemplar. Paredes brancas para pintar de cores e voltar a pintar de branco. Paredes brancas para colocar retratos, para deixar recados, para pregar pregos, para pendurar quadros. Para passar... simplesmente por elas, como se não existissem ou como se não tivessem um fim...