Há um espelho pendurado na parede.
Nele transparecem imagens, histórias, reflexos nublados da imaginação, luzes de cidades apagadas, das realidades e sonhos que se tornam ficção por se parecerem demasiado com o que vivemos por dentro, com o que queremos perdurar mas tememos. Este espelho tem outros lados... Recorda o país maravilhoso dos afectos. Recorda inúmeras imagens que existem dentro de mim... Prestes a nascer.
DO OUTRO LADO
Nasceste sobre um momento infinito.
Foi sobre as mãos cruzadas e pelo vento dos pensamentos inconstantes que te concebi.
Nasceste mulher construída nos sonhos de um olhar feito procura, que balança contra o abandono inexistente e uma eterna loucura que se alimenta de mar.
Crescestes entre os sobressaltos das eternidades terrenas e o revolto contratempo das pulsações dos pensamentos que te caíram a seco e se feriram em vão.
Cresceste sobre o abraço alargado e desencontrado do corpo e do tempo. Sobre um outro sorriso que te abraça e desenlaça o esquecimento. A memória descoberta em embaraço, como sombra apagada de quem não fez e quem não quis fazer-se existir. Lembrança dos tempos em que soluçavas canções em silêncio e desenhavas sois e luas no pó dos vidros sem vida. Relembro o som dos sentidos vagabundos que te embalavam com o vento perto da minha janela, o olhar sonâmbulo que te arrancava para o mundo de lá, secando as lágrimas dos dias seguros e serenos, um pouco mais sonolentos, um pouco mais puros, um pouco mais eternos.
Revejo os desenhos da tua imaginação, os projectos despojados de qualquer objecto, qualquer reflexo de um amanhã. Guardo os sonhos vazios que fizeste e mudaste de lugar. Recolho em mim os passos perdidos e cansados por não caminhar. Recolho o ventre de onde te vi morrer, o lugar mais escondido deste reflexo. E recolho o grito alcançado por fim, sem a sensata companhia da dor.
Hoje carrego em mim a névoa da vida que se derrete e se transforma na manhã morna, hoje sucumbo à hemorragia dos sentidos que tentei apagar no outro lado do espelho. Hoje, depois de serem anunciada todas as mortes, nasces de novo em mim: esperança eternamente adiada no amanhã transformado em passado.
Nasceste mulher construída nos sonhos de um olhar feito procura, que balança contra o abandono inexistente e uma eterna loucura que se alimenta de mar.
Crescestes entre os sobressaltos das eternidades terrenas e o revolto contratempo das pulsações dos pensamentos que te caíram a seco e se feriram em vão.
Cresceste sobre o abraço alargado e desencontrado do corpo e do tempo. Sobre um outro sorriso que te abraça e desenlaça o esquecimento. A memória descoberta em embaraço, como sombra apagada de quem não fez e quem não quis fazer-se existir. Lembrança dos tempos em que soluçavas canções em silêncio e desenhavas sois e luas no pó dos vidros sem vida. Relembro o som dos sentidos vagabundos que te embalavam com o vento perto da minha janela, o olhar sonâmbulo que te arrancava para o mundo de lá, secando as lágrimas dos dias seguros e serenos, um pouco mais sonolentos, um pouco mais puros, um pouco mais eternos.
Revejo os desenhos da tua imaginação, os projectos despojados de qualquer objecto, qualquer reflexo de um amanhã. Guardo os sonhos vazios que fizeste e mudaste de lugar. Recolho em mim os passos perdidos e cansados por não caminhar. Recolho o ventre de onde te vi morrer, o lugar mais escondido deste reflexo. E recolho o grito alcançado por fim, sem a sensata companhia da dor.
Hoje carrego em mim a névoa da vida que se derrete e se transforma na manhã morna, hoje sucumbo à hemorragia dos sentidos que tentei apagar no outro lado do espelho. Hoje, depois de serem anunciada todas as mortes, nasces de novo em mim: esperança eternamente adiada no amanhã transformado em passado.
1 comentário:
Visitei o teu cantinho. Mas não escolhi o caminho mais fácil. Fui pelo outro lado do espelho. Vi-te de um outro ponto de vista. Entre nós, um reflexo que nos separa, eu de um lado e tu do outro. Quem estará no lado da realidade? E quem estará no lado da fantasia? Não estaremos ambos em lados diferentes que são no fundo iguais? O que é certo é que não procuramos coisas exteriores a nós, procuramos simplesmente a nós próprios.
Beijos grandes e estrelados!
Bruno Batista
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