Quando o ar nos engole e nos cospe para fora
da realidade onde sempre vivemos, faz-nos rastejar sem corpo, e soluçar sem água.
Faz-nos perder o ultimo toque da luz que nem à memória nos chega por ser tanta
a sua distância. Faz-nos suspirar sem som, e calar sem ter palavras para o
fazer. Faz-nos desistir de o ser. De entre tudo o que resta permanece apenas um
lugar vazio. O vazio, mestre nas suas infinitas paisagens. Por fim os olhos fecham-se.
Quando sem nos apercebermos se abrem, o que
anteriormente se viveu flutua num espaço limitado e pouco iluminado, onde o sangue
se sente e se segue. Teima em constante retorno dentro de mim. Está na minha
frente, precoce, inconstante, frágil e renitente, a réstia de uma qualquer
esperança a chegar a mais um dia sem que este pareça sem fim. Sobreviveremos
sempre aos sentidos trocados, às palavras dolorosamente cravadas, aos abraços descuidadamente deixados noutro tempo e aos beijos desencontrados, às mãos que deixarão de ser dadas. Sempre. É a esperança teimosamente a fazer-se vencer.
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