... quando foi que me perdi de todas estas palavras?
segunda-feira, dezembro 02, 2013
domingo, dezembro 01, 2013
Nada...
Não há memória possível de descrever nesse
espaço sem tempo. Nem sorriso possível de repetir. Nem som que me faça mover
sem sentido. Não há partícula que alcance a superfície da pele. Não há. Não há
expressão. Não há sentido.
É o branco que me chama aqui. O imaginar cálido
do nada. Da cor que tudo recebe. Onde me transporto sem nada comigo levar. Não
há passado, não há futuro, nem há sequer presente nestas palavras. Tudo
desvanece no nada. E do nada ressoa uma pulsação ilusória que me adormece.
Voltarei a perder-me nas linhas numa outra dimensão com sentido, quando o
sentido se repor, quando a memória ressuscitar, quando o soluçar tropeçar nesta
matéria pouco concreta, quase secreta, pouco provável, provavelmente etérea, evaporada.
Mas por enquanto, o que me leva ao mundo e o que me lava a alma dormente e
desamparada, é simplesmente nada…
sexta-feira, novembro 22, 2013
De outras páginas...
“Ítaca deu-te essa viagem esplêndida
Sem Ítaca, não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar-te.
Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
Terás compreendido o sentido de Ítaca”.
Konstantin Kavafis
sexta-feira, agosto 30, 2013
A casa vida
Díli. O caminho de volta
a casa traça um trajeto singular dentro dos diversos bairros da cidade onde a população
habita a terra em que construiu as suas casas. A fluidez animada das ruas mais
movimentadas e agitadas da cidade parece desaguar, dissipando-se em espaços
onde o ruído se desvanece e a sombra de árvores refresca e abriga. A luz é
calma. As casas alargam-se aos pátios, aos espaços exteriores, aos caminhos e
ruas de terra batida. A casa torna-se não só parede erguida mas presença
humana, identidade onde cada momento se inscreve em portas abertas; choros e
risos de crianças, música em compasso ritmado que inesperadamente surge de um
qualquer canto, dentro e fora de casa.
A casa constrói-se pela pulsação que os
habitantes trazem ao seu dia-a-dia. A casa amplia-se em convívio, transforma-se
em sorriso, cumprimentos e palavras trocadas em linguagens que se circunscrevem
na voz, em línguas como o português e o tétum, e na expressividade do corpo, um
aceno de cabeça, um aperto forte de mãos, o correr divertido, curioso mas
despreocupado das crianças, que acompanha o percurso pelo bairro. A casa torna-se
comunicação. Enquanto o sol vai desenhando o seu trajeto ao longo do dia, a casa
transforma-se em matizadas escritas de cor e luz, fundada entre rotinas diárias
e culturais na essência de um povo e ergue-se assim também em ocupação, trabalho,
reunião, lazer, diversão, abrigo.
Perto das ruas mais
movimentadas da cidade mas resguardadas pelo amparo das árvores que as vigiam e
abastecem a refrescante e acolhedora sombra, criando um envolvimento protetor,
perde-se momentaneamente a noção de um tempo. Perde-se em si, o próprio conceito
de tempo. O tempo será assim tudo aquilo que os habitantes das casas de portas
abertas criam para si. Tudo o que vivem dentro e fora das quatro paredes
protetoras. O tempo transforma-se também aqui em casa. E a casa torna-se viva. Gerações
familiares que perpetuam os seus laços e tradições, anciões de serena presença,
homens que vigiam os passos, mulheres que recolhem e acolhem no colo os seus
filhos, mulheres que labutam a matéria prima da sua terra, crianças anfitriãs
dos bairros presenteando-nos com a simplicidade dos renovados momentos. Um
simples apontamento de presenças e de sentidos, e no qual se vão ampliando
reavivados sentidos. A casa é por tudo isso vida.
(Dili, Junho de 2013. Texto introdutório ao projecto fotográfico "Casa vida")
Subscrever:
Mensagens (Atom)