terça-feira, abril 28, 2009

Manhã

"Estou
e num breve instante
sinto tudo
sinto-me tudo

Deito-me no meu corpo
e despeço-me de mim
para me encontrar
no próximo olhar

Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão

Nada me alimenta
porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira

A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios estiverem já mortos

Educadamente mortos"


Mia Couto em
Raiz de Orvalho e Outros Poemas

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim... mas... porquê quando já mortos ?

Fatma disse...

...e porquê educadamente?