O despertador não me procurou desta vez. Revi aos poucos os traços da noite e a luz fresca que ansiei desenhar na memória da ainda imaculada e inocente manhã. Nada de admirável sobreviveu por aqui que vos possa contar. Sonhos sem sobressaltos que acabei por esquecer e o desejo de sonhar lavado com o abrir de olhos. Roupas atiradas para cima de um sofá, ao acaso, e um dia para completar peça a peça até que a noite regresse para me saudar, indiferente, ou por algum atalho da minha imaginação, com um beijo. É fonte do meu desejo este ambivalente olhar entre as rotinas dos mecanismos diários e a pausa que surge do outro lado do silêncio, que me esquiva dos pensamentos. Lentamente me ponho em pé, ando, abro a porta, lavo a cara e seco as mãos. Paro. Para onde mais me hei-de voltar? Escorre pela pele o atalho secreto dos sentidos que tracei para mim.
Por baixo da porta um recado:
Espera por mim, estou desejoso por te ver de novo.
(Jullho de 2008)
(referente ao tema "desejo" na Minguante - revista de micronarrativas nº 11)
Sem comentários:
Enviar um comentário