(breve memória dos sons)
Secaste sozinho as tuas lágrimas, já não me deixas lavar nelas. Calaste as canções e os anúncios da rádio. Trancaste os sons da noite, o noticiário e os relatos de futebol. Levaste o vento que assobiava na janela e na velha chaleira. Os vidros enevoados da água a ferver para o chá. Calaste os sorrisos.
Tudo é silêncio e humidade.
O silêncio é a língua dos corpos sem sombra. É a massa invisível do toque. O recanto, o soluço, o gesto, o sonho, o sossego, o futuro, o espaço mais embaraçado da alma. A casa.
O silêncio é o passatempo dos sonhadores imóveis e o retracto dos aviadores de esperança quando acabam por aterrar. O contratempo dos condutores de vazio que vagueiam sem se notar, espectros inoportunos que acenam desejos ocultos e beijam as mãos antes de as tocar.
O silêncio é a viagem embaciada e desfocada que concebo dos teus olhos.
Tens a dádiva de os ler. Foi essa a língua que aprendeste a usar.
Descreves a vida dos sons mudos que te caem no olhar. E eu recebo-os como a causa que anuncia o desbotar dos sentidos. O ensurdecer das tentações. O tombo inquestionável das resignações fúteis.
Tudo é silêncio e humidade.
Quiseste realçar o pó nas paredes imóveis e despedaçar os vasos com flores secas que não cuidei. Ordenaste a passividade dos sonhos. Construíste-me absorta nos teus pensamentos que já não se escrevem aqui. Sem me aperceber, aqueceste-me na lareira sem lenha, antes de sair.
Amontoado de lume prestes a estrear, acondicionado num sopro de memória. Vento bafio que permaneceu no teu lugar. Sueste nocturno enclausurado na raiz de uma antiga e afeita vontade que não se pode cumprir.
Perdi os recados e as anotações da vida em dicotomia, choquei de frente contra a luz insípida da manhã, cruzei com perícia o caminho dos sonhos e da monotonia.
Creio que chorei. Julgo que te humedecia também o olhar.
Enquanto secava lagrimas desfiadas pelos sons das lembranças corrompidas, fugias dos silêncios que tinha guardado para te dar.
Secaste sozinho as tuas lágrimas, já não me deixas lavar nelas. Calaste as canções e os anúncios da rádio. Trancaste os sons da noite, o noticiário e os relatos de futebol. Levaste o vento que assobiava na janela e na velha chaleira. Os vidros enevoados da água a ferver para o chá. Calaste os sorrisos.
Tudo é silêncio e humidade.
O silêncio é a língua dos corpos sem sombra. É a massa invisível do toque. O recanto, o soluço, o gesto, o sonho, o sossego, o futuro, o espaço mais embaraçado da alma. A casa.
O silêncio é o passatempo dos sonhadores imóveis e o retracto dos aviadores de esperança quando acabam por aterrar. O contratempo dos condutores de vazio que vagueiam sem se notar, espectros inoportunos que acenam desejos ocultos e beijam as mãos antes de as tocar.
O silêncio é a viagem embaciada e desfocada que concebo dos teus olhos.
Tens a dádiva de os ler. Foi essa a língua que aprendeste a usar.
Descreves a vida dos sons mudos que te caem no olhar. E eu recebo-os como a causa que anuncia o desbotar dos sentidos. O ensurdecer das tentações. O tombo inquestionável das resignações fúteis.
Tudo é silêncio e humidade.
Quiseste realçar o pó nas paredes imóveis e despedaçar os vasos com flores secas que não cuidei. Ordenaste a passividade dos sonhos. Construíste-me absorta nos teus pensamentos que já não se escrevem aqui. Sem me aperceber, aqueceste-me na lareira sem lenha, antes de sair.
Amontoado de lume prestes a estrear, acondicionado num sopro de memória. Vento bafio que permaneceu no teu lugar. Sueste nocturno enclausurado na raiz de uma antiga e afeita vontade que não se pode cumprir.
Perdi os recados e as anotações da vida em dicotomia, choquei de frente contra a luz insípida da manhã, cruzei com perícia o caminho dos sonhos e da monotonia.
Creio que chorei. Julgo que te humedecia também o olhar.
Enquanto secava lagrimas desfiadas pelos sons das lembranças corrompidas, fugias dos silêncios que tinha guardado para te dar.
9 comentários:
Excelente texto!
É teu?
Os meus parabéns!
Obrigado pelo link d´A Minha Matilde!
Os votos de um Bom FDS!
Bjks da Matilde
Muito obrigado!:) é meu sim. Por enquanto têm sido todos.E quanto ao link, é um prazer tê-lo cá. Gosto muito de visitar a Matilde. Um optimo fds tb.
Bjos Fatma
fátima...
a admiração é mútua! também te acompanho no DNj há us tempinhos... e gosto... muito!
vou continuar por lá... e por aqui...
Cara Fatma,
Um texto tão singelo não merece uma gralha destas, por isso chamo a atenção para ela: existe nele uma viagem com "j". :)
(só a quem não escreve, minha cara, só a quem não escreve...)
Um abraço,
RS
Caro Rui:
Obrigado pela dica. (Há que ter mais atenção e por vezes necessito dessas achegas para não deixar que outras(gralhas)apareçam...:))
Bjos
Fatma
Paulo:
Sou eu quem agradeçe a visita e as palavras.
Obrigado
Agradece. Sem cedilha, certo?
Certo! Certíssimo.:) Isto anda crónico... anda a repetir-se muitas vezes (infelizmente)...
"O silêncio é a língua dos corpos sem sombra. É a massa invisível do toque. O recanto, o soluço, o gesto, o sonho, o sossego, o futuro, o espaço mais embaraçado da alma. A casa."
Como gostei!?
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