terça-feira, maio 30, 2006

Caminho para a felicidade

( Hungria-Norte / estrada para Ègerszog - 2003)

sexta-feira, maio 26, 2006

Sempre de volta a um outro eu

Depois de todos os sonhos de amor escritos em ti, volto a querer o calor que de mim se perde quando a lua nos espera. Depois dos sorrisos que se desprendem do meu olhar, volto a sussurrar esperas e canções distantes, perdidas pelo cansaço e pela saudade. Depois do turbilhão de mãos ajustadas aos sentidos, volto a pertencer ao vento veloz que me conduz a casa. Depois das solidões desmentidas, volto ao ciclo das marés sem nome e aos passos calados pela despedida. Depois dos pianos descalços, oiço a escuridão dos braços apertados que chegam em miragem sobre mim. Depois do encantamento demorado da vontade, sigo as folhas de um Outono sem lei nem dono, que caem como penas ao chão raso de emoção. Canto canções distantes que se ouvem depois de se ouvir o suave eco da memória. Depois de alcançar a tempestade sigo atrás da espera desorientada da calma conduzida pelo perdão. Perco a névoa embaraçada pela razão, por não saber como olhar outro rosto na tua imagem, outra morada na rua incontornável das sensações que nos caem na alma. E sem mais a sentir sobre as palavras desleixadas e entregues nas mãos do passado, escrevo caminhos desamparados que me conduzem à história que se entorna em mim. Sigo nascentes e muros e janelas e talvez algum sonho perdido, onde a luz do dia se reflecte. Sigo os pensamentos que se prendem e empeçam constantemente no sempre demorado presente.

(Outubro 2002)


(Aos que se reinventam depois das tempestades)

quarta-feira, maio 24, 2006

Saudade de casa



Saudade desta terra onde o horizonte divaga entre o céu e o mar. Onde não concebo limites e alimento os sentidos. Saudade do tempo em que me construí com caminhos lentos pela calçada e ventos passeando pela face. Saudade de casa.

sexta-feira, maio 19, 2006

Silêncio em contratempo

Dei por mim em silêncio. Dei por mim alheia ao compasso dos sons que surgem dentro de mim.
Tentei decifrar o código secreto e inoportuno dos aglomerados conceitos que por mim iam penetrando, fundindo-se impassíveis com o deslizar de uma luz baça criada pelo balanço do tempo, que escorregou no vazio. Movimento congénito de um princípio sem fim. Realidade controlada por uma existência aparente, quando se respiram medos, suprimindo o ar, e se olham os segredos da alma, ao invés de se olhar o mar.
Dei por mim na demora de uma quietude compulsiva, sem latejo nem pulsação, ansiando encontrar o trajecto de retorno aos contornos do coração. Uma persistente pausa de luar e vento amachucou os sentidos sem endereço e estancou a demora de uma imagem desfocada e angustiada onde me revi. Descrevi-me tal como o poema que se constrói apenas pela rima.
Passearam pelas paredes desenhos das sombras do mundo e a contagem de um tempo edificado antes dos relógios que agora persistem por aqui. Pêndulos partidos pelo fantasma da vontade de regressar. Passaram por aqui estações de contemplação e alento, e estradas sem origem, nem berma, nem assento. Eternidades longínquas onde vos entendi com outras linguagens e desejos.
Outros sons nasceram conquistando, impiedosos, cidades de desamparo que amainaram a desilusão. Triunfaram relatos de escritos sem passado onde a espera tornou-se cura e os apelos caíram no chão.
Resisti com esse olhar confuso onde as lágrimas querem imitar os rios.
Descansei então o peso dos relatos de futuros que nunca vivi. Dei por mim a ultrapassar sonhos que atravessaram imunes, a sombra das derrotas e das saudades por cumprir. Revi-me em pecados impunes que ninguém presenciou nem renunciou. Sobrevivi a este silêncio solene, embalando-me na passagem dos devaneios rebeldes que também adormeceram por fim. Depois, dei por mim a sorrir.


(Publicado no DNJovem a 19 de Maio de 2006)


(Porque, por vezes, os silêncios dão voz aos imensos, complexos e enleados mundos que passam por nós)

quarta-feira, maio 17, 2006

A parede e a solidão



Na parede branca passou, passeando, uma solidão sem sombra. Restou a imagem dos passos lentos, pesados, sem tempo nem direcção, que deambularam à procura de um passado ou de um abrigo... Fugindo vagarosamente da calma que a condenava... Restou a parede branca. A solidão não abarca o apelo da luz alva nem o apego dos dias claros de sol...

domingo, maio 14, 2006

Éden

É no segredo das almas
Que os deuses repousam;
Nessas sombras brancas
Onde se espelham as nuvens,
Onde o som sossega e o silêncio cai.

É pelo olhar distante
Que o sono se entorna
Gota a gota
Sobre a cama vazia
E a manhã recorda,
Serena e atenta,
O acordar de outro dia.
É sobre o teu respirar lento
Que a luz expira, cansada,
E a lua se casa com o vento.

É no amanhecer das pedras
Que os deuses sonham.
As folhas caem, atordoadas pelo tempo,
Na calçada deserta, onde os passos calam.
Nelas se escrevem outras lendas,
Outros abraços.

É a distancia do corpo
Que as lágrimas anunciam;
Ponte suspensa em margem alheia.
É no segredo do mundo
Que a alma vagueia,
É no segredo das almas
Que os deuses suspiram.

(Dezembro 2001)

terça-feira, maio 09, 2006

sábado, maio 06, 2006

Silêncio e humidade

(breve memória dos sons)


Secaste sozinho as tuas lágrimas, já não me deixas lavar nelas. Calaste as canções e os anúncios da rádio. Trancaste os sons da noite, o noticiário e os relatos de futebol. Levaste o vento que assobiava na janela e na velha chaleira. Os vidros enevoados da água a ferver para o chá. Calaste os sorrisos.
Tudo é silêncio e humidade.
O silêncio é a língua dos corpos sem sombra. É a massa invisível do toque. O recanto, o soluço, o gesto, o sonho, o sossego, o futuro, o espaço mais embaraçado da alma. A casa.
O silêncio é o passatempo dos sonhadores imóveis e o retracto dos aviadores de esperança quando acabam por aterrar. O contratempo dos condutores de vazio que vagueiam sem se notar, espectros inoportunos que acenam desejos ocultos e beijam as mãos antes de as tocar.
O silêncio é a viagem embaciada e desfocada que concebo dos teus olhos.
Tens a dádiva de os ler. Foi essa a língua que aprendeste a usar.
Descreves a vida dos sons mudos que te caem no olhar. E eu recebo-os como a causa que anuncia o desbotar dos sentidos. O ensurdecer das tentações. O tombo inquestionável das resignações fúteis.
Tudo é silêncio e humidade.
Quiseste realçar o pó nas paredes imóveis e despedaçar os vasos com flores secas que não cuidei. Ordenaste a passividade dos sonhos. Construíste-me absorta nos teus pensamentos que já não se escrevem aqui. Sem me aperceber, aqueceste-me na lareira sem lenha, antes de sair.
Amontoado de lume prestes a estrear, acondicionado num sopro de memória. Vento bafio que permaneceu no teu lugar. Sueste nocturno enclausurado na raiz de uma antiga e afeita vontade que não se pode cumprir.
Perdi os recados e as anotações da vida em dicotomia, choquei de frente contra a luz insípida da manhã, cruzei com perícia o caminho dos sonhos e da monotonia.
Creio que chorei. Julgo que te humedecia também o olhar.
Enquanto secava lagrimas desfiadas pelos sons das lembranças corrompidas, fugias dos silêncios que tinha guardado para te dar.


(Publicado no DNJovem a 5 de Maio de 2006)

segunda-feira, maio 01, 2006

Chave e fechadura


Procuro a chave perfeita. Aquela que dá voz ao espaço onde quero permanecer... uma porta, uma janela, um cofre, uma mala, um sorriso, um anseio, um olhar... A chave da vontade e dos pequenos momentos com um doce sabor a eternidade. A chave dos "momentos infinitos", talvez...